Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade
não sei com que sinceridade falo.
Sou váriamente outro do que um
eu que não sei se existe
(se é esses outros).
não sei com que sinceridade falo.
Sou váriamente outro do que um
eu que não sei se existe
(se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim
perpétuamente me ponta traições de alma
a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim
perpétuamente me ponta traições de alma
a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto
com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade
que não está em nenhuma e está em todas.
Sou como um quarto
com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade
que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore [?]
e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias,
em mim, i
ncompletamente,
como se
o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada [?],
por uma suma de não-eus
sintetizados num eu postiço.
e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias,
em mim, i
ncompletamente,
como se
o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada [?],
por uma suma de não-eus
sintetizados num eu postiço.
Fernado Pessoa
1 comentário:
Gostei dessas borboletas... :)
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